sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Cap. 8: Tratando um colaborador como gente, não como um mercenário

Na semana que se passou, Seu Afrânio voltou a receber alguns colaboradores que cobraram dele uma resposta a respeito de um refeitório para a filial. O assunto já parecia uma novela mexicana, pois o RH e a direção da empresa já tinham como política estabelecida o fato de que a loja não deveria ter um refeitório.

A justificativa era que a filial fora projetada para atender não apenas a população daquela micro região, mas também empregar pessoas que morassem naquela redondeza justamente para que pudessem fazer suas refeições em casa e reduzir os custos com transporte. Com isso a loja não tinha sequer um espaço com algumas mesas que pudessem ser utilizadas para o almoço de alguém.

Afrânio não concordava com seus filhos e com essa visão "prática" e generalista a respeito de um benefício tão simples a ser oferecido. Afinal, acreditar que 100% dos colaboradores fariam suas refeições fora da empresa era um tremendo erro. Basta saber que pelo menos 50% deles utiliza ônibus coletivo para ir e voltar ao trabalho, mesmo residindo a curta distância. Como podem dispor de seu tempo para almoçar em casa? Como poderão fazer o percurso de ida e volta, fazer o almoço, e tudo isso no prazo do almoço?! Esse ponto de vista não parecia algo muito humanizado por parte da empresa.

Após matutar bastante sobre o assunto, Afrânio marcou uma reunião de diretoria para expor seu ponto de vista e ouviu mais uma vez que, quando contratados, todos sabiam das condições de entrada na empresa e concordaram. Portanto nada precisaria ser feito para atender a esse pedido.

Restou ao velho dono de mercado apelar para o fator emocional. A loja estava crescendo em faturamento; os colaboradores faziam toda a hora extra necessária para não deixar o cliente sem atendimento; o trabalho oferecia folga semanal, mas todos trabalhavam de 2 a 3 domingos por mês, folgando em dias onde nada podiam fazer em companhia de sua família; nos horários de almoço em que houvesse fila nos caixas, açougue e padaria, esses colaboradores raramente saíam no horário certo, sempre ficavam urm pouco mais, e normalmente acabavam almoçando algum salgado da padaria em apenas 20 minutos, ali em algum canto do depósito da loja.

A diretoria precisava lembrar-se disso: o funcionário sempre esteve a disposição da empresa para trabalhar diferentemente do que fora combinado na contratação. Se eles se sujeitam a fazer algo a mais para atender à demanda, por que a empresa não pode ceder-lhes um benefício tão simples, que é um espaço com 3 mesas para realizarem refeições?

Afinal, quando alguém diz que o atendimento do Sup. Feijão com Arroz está bom, na verdade é o colaborador trabalhando bem. Quando dizem que o mercado está limpo e organizado, é o colaborador limpando bem e organizando. Quando dizem que não tem faltado produtos e a loja está com muitas ofertas, é o colaborador que está abastecendo bem e cartazeando a área de vendas.

O supermercado não passa de um prédio, ele não tem vida!! Tudo o que acontece lá e está sendo bem feito é mérito do colaborador!! Será que ninguém era capaz de reconhecer isso?!

Após a reunião calorosa Afrânio conseguiu o que queria, meio a contra gosto dos demais, mas conseguiu. E colocou-se a pensar: fazem faculdade nas melhores instituições do país, fazem MBA, participam de fóruns e eventos empresariais, lêem revistas de negócios... e não são capazes de desenvolver o endomarketing para beneficiar a própria empresa.

Conviver novamente no mundo dos negócios começava a trazer de volta o desejo pela vida no campo, onde o trabalho em grupo e o respeito mútuo são necessários para a sobrevivência de todos. Afrânio começava a desacreditar que o ser humano capitalista fosse capaz de respeitar seu semelhante, mesmo quando propaga a importância da sustentabilidade, a ecologia e o meio ambiente. É muita frieza no coração empreendedor com olhos somente para as receitas e despesas.

Assim Afrânio pensou que contraditório já é uma palavra muita fraca para expressar o comportamento do empresário atual... chama a todos de "colaboradores" mas os trata como meros mercenários. Era chegada a hora de dar uma aquecida no relacionamento entre patrões e empregados.

2 comentários:

  1. Oi Adriano! Finalmente hj tive um tempinho pra colocar minha leitura do seu blog em dia.

    Eu ADOREI esse post. ABSURDO qq cara que se pretende administrador, gestor ou coisa que o valha, construir uma empresa, seja ela de que segmento for, que tenha mais de 10 colaboradores, sem o espaço nem pra um cafezinho. Nem pensar na falta de um pequeno refeitório de preferência com uma pia para lavarem suas marmitas etc. Por menor que seja a cidade, lugarejo, whatever, se os diretores pensaram que todos os empregados iriam almoçar em casa, ele é, no mínimo, um "administrador" limitado, mesmo se saído de Harvard. Ele deveria saber que, mesmo que o empregad more no terreno contíguo ao do supermercado, ele levará mais tempo indo em casa almoçar do que almoçando no local de trabalho. O que "leva" o empregado (não tenho pudores com essa palavra, não, o que é ruim é "desempregado", essa de colaborador é clichê pra esconder preconceito) a voltar mais rapidamente, às vezes, ao seu trabalho. Isso sem contar que eles poderão almoçar juntos em grupos de colegas de trabalho e/ou amigos. E isso é altamente positivo para o desempenho da pessoa no trabalho e isso tem um nome, que está em desuso atualmente, URBANIDADE. O homem é um ser gregário e precisa conviver uns com os outros. O empresário que não vê isso, pode estar bem hj, mas amanhã pode estar morto.

    Abraços

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  2. Sem dúvida, chega a ser até constrangedor termos que abordar temas dessa natureza. Seria como dizer aquela célebre frase dos mosqueteiros apenas pela metade: "... todos por um".

    Abraços!

    P.S.: relendo o meu texto encontrei um monte de erros de concordância... ai mamãe!!!! A pressa é inimiga da perfeição, rsrsrs.

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Se você é do ramo supermercadista e deseja dividir sua experiência sobre esse tema, fique à vontade! Você é bem vindo.